segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Demissão do governo em França e outras inferências...


Hoje estou assim um bocadinho com veia de sindicalista, por isso vem daqui uma opinião exaltada eheh =P
Soube-se há poucos dias da demissão do governo francês, aceite pelo presidente Sarkozy...enquanto via as imagens das inúmeras greves e manifestações em Paris e pelo resto do país, não pude deixar de sentir admiração pela coragem e pelo espírito cívico daqueles cidadãos e cidadãs. Pelo seu poder reinvindicação, de luta pelo que acham certo. Não foi afinal França o berço da república e dos direitos do Homem? E os franceses bem que sabem defender essa herança. Já os portugueses....tudo bem que me digam que a nossa situação económica não é a melhor, ainda estamos pior do que os franceses e o célebre " para quê barafustar? Eles fazem tudo na mesma e perdemos um dia de ordenado". Ora bem, nós estamos pior, mas sinceramente acho que foi por que deixamos que isso acontecesse! Houveram outros países na Europa ( tal como a Alemanha, por exemplo) que também estiveram mesmo na mó de baixo e souberam renascer das cinzas. Mas nós, que nunca estivemos mesmo, mesmo em baixo, contentamo-nos com o mais ou menos. Isso é a meu ver o pior erro! Isso, e renegar o maior direito que a democracia nos trouxe ( sim, a democracia não trouxe só a possibilidade de podermos opinar como nos apetecer), o direito ao voto!!
E observo que tanta gente se queixa, mas chega o momento de poder fazer algo acerca do destino do país que todos amamos( eu, pelo menos) e falham a votação. Como é que alguém se pode queixar sem ter feito nada para tentar mudar a situação? E mais engraçado, também existem aqueles que são apologistas do "votar no mesmo até morrer, mesmo que faça uma m**** de todo o tamanho" e depois também gostar de molhar a sopa, e foram os mesmos que os puseram lá...há que respeitar. Mas confesso que me causa alguma urticária. Nós, que fomos os pioneiros na expansão marítima, que fomos vanguardistas e somos em tantas áreas, que fizemos já tanto de bom, não devemos ir buscar, nem que seja um cheirinho do espírito francês e reclamar aquilo a que qualquer pessoa deve ter direito, uma vida digna? Uma pessoa que trabalha e mal recebe para sobreviver, que raio de dignidade é que isso tem??
E, sendo eu um bocado leiga nestes assuntos, clarifiquem-me: porque é que o governo diz que esta é a única alternativa? Que matar pessoas à fome, deixa-las sem acesso à saúde e à educação, criar cada vez mais segregacionismo social é a única maneira de levantar o país? Parece-me irónico, quando vemos na televisão e não só os lucros que algumas empresas estão a ter, tal como o sector bancário, e a eles ninguém lhes tira nada, que, coitaditos, só conseguem comprar meia dúzia de jaguares ou ferraris por mês....
Povo português, é a hora! ( desculpem a reminiscência Pessoana, lol)!
Temos que nos mobilizar, juventude, toca a acordar! Eu já votei, já fiz greve, já andei a distribuir panfletos.
Unidos faremos a força.

Já agora, um dos meus poemas favoritos de sempre, que leio sempre a que a força me falta, que a garganta se aperta...a mim ajuda ( ah, o poeta é Torga, esse grande, grande senhor da literatura portuguesa):

Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!

Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.

Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.

Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!

Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!

Miguel Torga in Poemas Ibéricos, 1965

2 comentários:

  1. sensacional este poema.
    estou contigo... e há mais cores para além do laranja e rosa, que já estão tão gastos, ou não?;)

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